terça-feira, 21 de julho de 2009

O dia está negro hoje. Amanheceu e sinto que o sol não manda seus raios com a mesma avidez que o faz todos os dias. Parece que ele se levantou sem querer acordar, como se tivesse sido ordenado por um rei em algum lugar. Esse rei não tem culpa, só está fazendo seu trabalho. Olho pela janela e vejo pessoas com ombros encolhidos e braços cruzados, mas é de manhã! Elas deveriam estar de braços abertos e a abraçar o sol com aquele bom dia que recebemos diariamente. Mas as pessoas não estão tristes, vejo sorrisos em suas faces. Tenho certeza que o problema é com o sol. Talvez ele tenha perdido um grande amigo, que te dava bom dia todas as manhãs, que tinha prazer em vê-lo abrir os olhos. Uma pessoa que não conseguia dormir se alguém estivesse prestes a acordar, que não sorria se tinha alguém triste do seu lado. Alguém que não aceitava andar em frente se via alguém no seu caminho com um problema. E como era fácil resolver os problemas... Alguém com um coração que não cabia no peito. E infelizmente esse coração parou. Grandes corações não poderiam parar, há algo de muito estranho nisso...


Pensando melhor, percebo outra possibilidade de entender o que se passa. Talvez o sol não esteja triste. Ainda melhor, talvez esse seja um dos dias mais felizes de sua vida. Talvez ele tenha tirado esses primeiros minutos da manhã para abraçá-la (sim, essa pessoa era uma mulher, a mais forte que já existiu, e que tinha um peito estufado por não caber seu coração ali), como nunca tinha abraçado antes, de perto, e sentindo queimar por dentro, esqueceu de tudo em volta. Talvez ele esteja radiante de alegria, e durante um bom tempo, os primeiros minutos da manhã serão mais frios, porque se ausentará para abraçar alguém que sempre esteve em pé quando abria os olhos. E assim os dias serão mais claros, mais lindos, porque trabalhará extremamente feliz por ter recebido aquele abraço, que injustamente muitos não receberam. Os pores-do-sol terão uma beleza incomum, estonteante, e assim agradeço a ela por ter me proporcionado tudo isso, mesmo que agora não possa mais vê-la, mesmo sabendo que está do meu lado, mesmo sentindo-a.


E então nossa amiga está longe. Foi para que os inícios de manhã ficassem mais frios, e assim consigamos dar valor ao nosso amigo lá em cima, por quem ela tanto prezava; para que as manhãs e tardes sejam mais lindas, todos os dias, e para que não houvesse mais palavras para descrever os pores-do-sol que aconteceriam daqui para frente. Ela foi feliz, deixando a vida de todos, até de quem não a conheceu, mais bela. E sorri agora pela manhã, dizendo que está tudo bem como sempre esteve.


À Valdeci Vieira Matos, “tia Titi”, a melhor amiga do sol.