terça-feira, 13 de outubro de 2009

Mulher.
























Por Geovane Dourado.

domingo, 27 de setembro de 2009

Just a song.



Radiohead

How to disappear completely

That there
That's not me
I go
Where I please
I walk through walls
I float down the Liffey
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here

In a little while
I'll be gone
The moment's already passed
Yeah it's gone
And I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here

Strobe lights and blown speakers
Fireworks and hurricanes
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here.


Se existe um meio para conseguir desaparecer está aqui. Apenas sinta.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Beck - Odelay


Ainda não havia escutado um disco assim. Odelay não se parecia com nada que havia sido lançado até então, nem mesmo com o disco anterior de Beck (Mellow Gold) e, à primeira audição, acabou completamente com meus preconceitos musicais.


Beck destruiu todas as regras. Misturou tudo: folk, country, electro, old-school rap, noise, bossa-nova, garage rock, retrô, metal, samba, soul e new wave; usou sanfona e sampleou até “Desafinado” de João Gilberto. E o mais impressionante, nada parece fora de lugar. Mr. Hansen acabou com a mesmice com uma manobra tão simples e óbvia que não se sabe como muitos artistas se esqueceram disso: ser original.


O autor do hino “Loser” (perdedor) fez uma obra de arte considerada até hoje um dos melhores discos dos anos 90. Nela, cada música acaba com as convenções pré-estabelecidas, seja na construção ou na apresentação; e tudo isso sem se levar à sério. Destacar apenas uma ou outra seria uma heresia, mas para ouvidos desavisados é recomendado iniciar a audição com as ótimas “Lord Only Knows”, “The New Pollution”, “Jack-Ass” e Where It’s At”.




1. Devil's Haircut – 3:14

2. Hotwax – 3:49

3. Lord Only Knows – 4:14

4. The New Pollution – 3:39

5. Derelict – 4:12

6. Novacane – 4:37

7. Jack-Ass – 4:11

8. Where It's At – 5:31

9. Minus – 2:32

10. Sissyneck – 3:52

11. Readymade – 2:37

12. High 5 (Rock The Catskills) – 4:10

13. Ramshackle – 5:46

14. Diskobox – 3:35


“E um dia Beck chegou e acabou com tudo. Com essa bobajada de rock alternativo, com essa corja de bandinhas de nomes espertos, com essa chatice de guitarras que não querem dizer nada e com a inútil avalanche de vocais roucos e pseudônimos”.


Por agvmagalhães.




terça-feira, 21 de julho de 2009

O dia está negro hoje. Amanheceu e sinto que o sol não manda seus raios com a mesma avidez que o faz todos os dias. Parece que ele se levantou sem querer acordar, como se tivesse sido ordenado por um rei em algum lugar. Esse rei não tem culpa, só está fazendo seu trabalho. Olho pela janela e vejo pessoas com ombros encolhidos e braços cruzados, mas é de manhã! Elas deveriam estar de braços abertos e a abraçar o sol com aquele bom dia que recebemos diariamente. Mas as pessoas não estão tristes, vejo sorrisos em suas faces. Tenho certeza que o problema é com o sol. Talvez ele tenha perdido um grande amigo, que te dava bom dia todas as manhãs, que tinha prazer em vê-lo abrir os olhos. Uma pessoa que não conseguia dormir se alguém estivesse prestes a acordar, que não sorria se tinha alguém triste do seu lado. Alguém que não aceitava andar em frente se via alguém no seu caminho com um problema. E como era fácil resolver os problemas... Alguém com um coração que não cabia no peito. E infelizmente esse coração parou. Grandes corações não poderiam parar, há algo de muito estranho nisso...


Pensando melhor, percebo outra possibilidade de entender o que se passa. Talvez o sol não esteja triste. Ainda melhor, talvez esse seja um dos dias mais felizes de sua vida. Talvez ele tenha tirado esses primeiros minutos da manhã para abraçá-la (sim, essa pessoa era uma mulher, a mais forte que já existiu, e que tinha um peito estufado por não caber seu coração ali), como nunca tinha abraçado antes, de perto, e sentindo queimar por dentro, esqueceu de tudo em volta. Talvez ele esteja radiante de alegria, e durante um bom tempo, os primeiros minutos da manhã serão mais frios, porque se ausentará para abraçar alguém que sempre esteve em pé quando abria os olhos. E assim os dias serão mais claros, mais lindos, porque trabalhará extremamente feliz por ter recebido aquele abraço, que injustamente muitos não receberam. Os pores-do-sol terão uma beleza incomum, estonteante, e assim agradeço a ela por ter me proporcionado tudo isso, mesmo que agora não possa mais vê-la, mesmo sabendo que está do meu lado, mesmo sentindo-a.


E então nossa amiga está longe. Foi para que os inícios de manhã ficassem mais frios, e assim consigamos dar valor ao nosso amigo lá em cima, por quem ela tanto prezava; para que as manhãs e tardes sejam mais lindas, todos os dias, e para que não houvesse mais palavras para descrever os pores-do-sol que aconteceriam daqui para frente. Ela foi feliz, deixando a vida de todos, até de quem não a conheceu, mais bela. E sorri agora pela manhã, dizendo que está tudo bem como sempre esteve.


À Valdeci Vieira Matos, “tia Titi”, a melhor amiga do sol.

sábado, 6 de junho de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

To think.



Estive pensando em algo que acredito que todo homem se depare um dia: na complexidade do ser humano. O pensamento inicia-se (isso mesmo, por conta própria) enquanto lavava pratos. Divagava sobre o quanto é fantástica a diversidade dos exemplares e a profundidade de cada um deles. Durante a reflexão, uma idéia se sobrepôs: o homem vive para relacionar-se. Se notarmos bem, todos (não digo a maioria, digo TODOS) os nossos objetivos são resumidos em uma expectativa de sentimento alheio, mesmo que este desconheça a ação ou o sujeito que a realizou. Nossas alterações de humor também se resumem ao relacionamento e dependem de um outro espécime. Aí me pergunto: poderia um humano viver sem um semelhante ao seu lado? Conseguir relacionar-se com o ambiente, e construir uma relação consigo mesmo que satisfaça o seu “objetivo” existencial? E por que chegamos onde estamos?


A partir do momento em que afirmo que a raça humana tem como objetivo instintivo o relacionamento, todo o resto parece inútil. Em toda a história a direção para onde apontamos e o caminho que traçamos parecem apenas um amontoado de futilidades e a construção de interesses de um ser ou grupo mais evoluído mental ou fisicamente. Este desenvolvimento, que é o mesmo que dá o controle, não pode ser considerado como objetivo da nossa espécie, assim como atribuímos às outras o objetivo da procriação. A partir do momento que possuímos um lado cognitivo desenvolvido precisamos saciá-lo. E assim, além de procriar para perpetuar a espécie, necessitaríamos de nos relacionar para saciar nossa aquisição evolutiva.


O desenvolvimento cognitivo, permitido evolutivamente à nossa espécie não conseguiu ainda – claramente - anular características instintivas, mas não consigo negar a possibilidade de haver um homem que consiga fazê-lo, já que estamos em constante processo evolutivo. Sobra ainda a mim, a contínua incerteza do objetivo humano, apesar da proposta acima. De todas as incertezas resta-me uma convicção: preciso lavar mais os pratos.



segunda-feira, 4 de maio de 2009

Ten

Alto nível de experimentação, muitos riffs, letras profundas e musicalidade envolvente. Tudo isso sob a liderança de uma voz poderosa e tocante. O álbum "Ten" veio revolucionar o grunge nascido há alguns anos atrás. Alice in Chains, Soundgarden e Nirvana ascendiam simultaneamente do mesmo local, Seattle, liderados por Layne Staley, Chris Cornell e Kurt Cobain, respectivamente.

O vocal forte, destoante é uma característica comum destas bandas citadas, mas nenhuma como a de Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam. Todos os instrumentos parecem coadjuvantes, seguindo um caminho, uma liderança. "Ten" é o primeiro e melhor álbum da banda, tornando-se ponto de referência na história do rock mundial. Com temas fortes, linguagem rebuscada e bastante rebeldia, o disco toca a alma de muitos. Não acredito que alguém possa não se arrepiar ao ouvir Eddie gritar em "Black": "I know someday you´ll have a beautiful life, I know that you´ll be a star in somebody else´s sky but why, why, why can´t it be, why can´t it be mine?". Quem nunca pensou isso e não conseguiu escrever?

Por trechos como este citado acima, e pela extrema competência musical de um primeiro álbum, que o Pearl Jam estréia com o pé direito e é hoje uma das maiores bandas do mundo. Pertence, juntamente ao U2 e algumas poucas bandas ao perfil de "politicamente engajados", promovendo ações humanitárias. Boa música e boas ações, uma forte aliança.


1 - Once - 3:51
2 - Even Flow - 4:53
3 - Alive - 5:40
4 - Why Go - 3:19
5 - Black - 5:48
6 - Jeremy - 5:18
7 - Oceans - 2:41
8 - Porch - 3:30
9 - Garden - 4:58
10 - Deep - 4:18
11 - Release - 6:30


Fica aqui a indicação de um ótimo álbum, de uma grande banda. Vale a pena tentar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

Robinson Crusoé

Originalmente com o título "The Life and Strange Surprising Adventures of Robinson Crusoe of York , Mariner: Who Lived Eight and Twenty Years, All Alone in an Unhabitated Island in the Coast of America, Near the Mouth of the Great River of Oroonoque; Having Been Cast on Shore by Shipwreck, Wherein All th Men Perished but Himself. With an Account How He Was at Last as Strangely Deliver´d by Pirates. Written by Himself.", a obra é baseada em uma história verídica. Analisa a consciência humana perante diversos aspectos, com enfoque em valores culturais da época, à exemplo do espiritualismo e dos conflitos entre filosofia e economia emergentes.


Escrito por Daniel Defoe e publicado em 1719, o livro conta a história de um inglês que aos dezoito anos foge de casa e torna-se um marinheiro náufrago, e numa ilha 'deserta' passa por privações e desafios. Uma pretensa autobiografia, descrevendo desde a juventude até a velhice do personagem e uma reflexão sobre a solidão e seus impactos na mente humana. Demasiadamente realista pra época, o romance torna-se base para inúmeras outras obras até os dias atuais.


Primeiro livro que me lembro de ter lido, Robinson Crusoé me marcou. Talvez por ele, ainda tenho preservado esse obsoleto costume, o de ler livros. Ficam aqui meus agradecimentos a Defoe. Por ter lido ainda moleque acredito que tenha perdido muita coisa, e possuo a obrigação de relê-lo. Mas a capacidade de me marcar enquanto Hulk, The X-Men e os videogames todos estavam ainda à tona faz dele uma obra inestimável.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Yankee Hotel Foxtrot

Marcante. Um bom adjetivo para o álbum. A marca fica na banda pela peculiaridade do lançamento, quando a até então gravadora recusa lançá-lo, julgando-o anticomercial (e pagando caro pelo equívoco); na história pela aclamação em 2002, sendo o topo de diversas listas, alcançando o 13º lugar na billboard; e na "top ten list" (sempre constituída de uns 18 nomes) de quem o ouve.

Álbum com músicas quase que experimentais, como a psicodélica "I Am Trying to Break Your Heart", que possui uma riqueza de detalhes impressionante e músicas modelo do pop tradicional, como "Kamera" e "Jesus, etc." encanta a muitos. "I´m the Man Who Loves You" com sua guitarra nervosa fica com o título de melhor música do álbum.

Yankee Hotel Foxtrot
1 - I Am Trying to Break Your Heart - 6:58
2 - Kamera - 3:30
3 - Radio Cure - 5:09
4 - War on War - 3:49
5 - Jesus, Etc. - 3:52
6 - Ashes of American Flags - 4:45
7 - Heavy Metal Drummer - 3:08
8 - I´m the Man Who Loves You - 3:57
9 - Pot Kettle Black - 4:00
10 - Poor Places - 5:18
11 - Reservation - 7:25

terça-feira, 17 de março de 2009

Factótum

Segundo romance escrito por Charles Bukowski, "Factótum" (1975) conta mais uma vez a história de Henry Chinaski, uma espécie de alter ego do autor. Um livro compacto e com uma linguagem bem simples, seria uma ótima opção para um primeiro contato com suas obras.


Escrevendo de uma forma bem vulgar e direta, Bukowski desconstrói aquela história romântica que possui um final feliz e que todos sonham. Com uma mistura de fracasso e solidão, o realismo envolve o livro e conta a história do "loser" - atribuição do senso comum por não ter emprego, esposa ou filhos; passiva de análise - Henry Chinaski, durante a Segunda Guerra Mundial. Passando por várias cidades, empregos e mulheres com uma superficialidade impressionante, Chinaski constrói o enredo. Alternando entre descrições diretas e mensagens profundas, Bukowski encanta os que não o desprezam por sua vulgaridade. O "velho safado" ainda assusta a alguns.


“Deitei na cama, abri a garrafa, dobrei o travesseiro nas costas para ter um bom apoio, respirei fundo e sentei na escuridão olhando a janela. Era a primeira vez que eu estava sozinho em cinco dias. Eu era um homem que se fortalecia na solidão; ela era pra mim a comida e a água dos outros homens. Cada dia sem solidão me enfraquecia. Não que me orgulhasse dela, mas dela eu dependia. A escuridão do quarto era como um dia ensolarado pra mim. Tomei um gole de vinho.”


“Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6h30 da manhã por um despertador, sair da cama, vestir-se, alimentar-se à força, cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar o tráfego, para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro os bolsos de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber essa oportunidade?”


Como pode?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

OK Computer

Lançado em julho de 1997 e considerado por muitos o melhor disco da década, o OK Computer é o referencial do Radiohead. Tendo como tema a relação do ser humano com o avanço tecnológico e as consequências dessa relação, o título do álbum seria uma mensagem de rendição à esta evolução. Um infindável número de experimentações e sons eletrônicos mescla-se com instrumentos acústicos a todo momento no álbum, caracterizando o conflito vivido. O resultado é uma obra de arte, onde não se pode pensar em fazer alterações.

"Airbag", "Paranoid Android", "Subterranean Homesick Alien" e muitas outras grandes músicas compõem o álbum e através dos títulos já percebe-se a sintonia das faixas com o tema central do disco. "Exit Music (For a Film)" - realmente feita para um filme, Romeu e Julieta, aparecendo nos créditos - destoa do tema central mas não perde a qualidade. "Fitter Hapier" apresenta um computador ditando hábitos que seriam o caminho para a felicidade e é uma mensagem profunda a ser analisada. O mais impressionante é que nunca ouvimos o álbum duas vezes da mesma forma. A densidade das músicas é gigantesca, fazendo com que novos arranjos sejam continuamente percebidos e valorizados. Apenas ouça-o.


1 - Airbag - 4:44
2 - Paranoid Android - 6:23
3 - Subterranean Homesick Alien - 4:27
4 - Exit Music (For a Film) - 4:24
5 - Let Down - 4:59
6 - Karma Police - 4:21
7 - Fitter Happier - 1:57
8 - Electioneering - 3:50
9 - Climbing Up the Walls - 4:45
10 - No Surprises - 3:48
11 - Lucky - 4:19
12 - The Tourist - 5:24


To be continued...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

As cidades invisíveis

"Não se sabe se Kublai Khan acredita em tudo o que diz Marco Polo quando este lhe descreve as cidades visitadas em suas missões diplomáticas, mas o imperador dos tártaros certamente continua a ouvir o jovem veneziano com maior curiosidade e atenção do que a qualquer outro de seus enviados ou exploradores."

Assim o livro é iniciado, indicando a sua trama principal: as histórias contadas por Marco Polo à Kublai Khan - conquistador mongol para quem Marco serviu por muitos anos - sobre como seriam as cidades do seu gigantesco império. Se as cidades descritas pelo viajante veneziano realmente existiam, ou se todos os relatos eram visões diferentes de uma mesma cidade (talvez Veneza, sua cidade natal), não saberemos certamente. E não mudaria muito. O dilema vivido pelo grande Kublai vai permanecer indecifrado. O que vale de toda a experiência é participar de uma viagem à lugares mágicos através de descrições embebidas de um simbolismo intrigante e reflexivo, que nos remete à percepção e à complexidade da mente humana. Inúmeros são os trechos que poderia citar aqui como referência, mas a descrição bem sucinta de uma das cidades me deixou extasiado:

"O que distingue Argia das outras cidades é que no lugar de ar existe terra. As ruas são completamente aterradas, os quartos são cheios de argila até o teto, sobre as escadas pousam outras escadas em negativo, sobre os telhados das casas premem camadas de terreno rochoso como céus enevoados. Não sabemos se os habitantes podem andar pela cidade alargando as galerias das minhocas e as fendas em que se insinuam as raízes: a umidade abate os corpos e tira toda a sua força; convém permanecerem parados e deitados de tão escuro.

De Argia, daqui de cima, não se vê nada; há quem diga: 'Está lá embaixo' e é preciso acreditar; os lugares são desertos. À noite, encostando o ouvido no solo, às vezes se ouve uma porta que bate."

A habilidade de Calvino no que remete à fantasia é genial. Marco Polo, no livro, consegue encantar o grande rei dos tártaros e a nós leitores. E não só as histórias contadas por Marco Polo sobre as cidades visitadas nos impressiona. Os diálogos do mercador veneziano com o grande imperador são repletos de discussões subjetivas e profundas, que nos deixa constantemente presos ao livro:

Marco Polo à Kublai Khan:

" - Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e não terá."

"Eu falo, falo - diz Marco -, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja... Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido."

"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço."

Os nomes femininos para as cidades também nos deixa intrigado. Diomira, Isidora, Dorotéia, Zaíra, Anastácia e mais algumas dezenas de "mulheres" povoam o livro. Talvez homenagens ou comparações, mas a incerteza não tira ou acrescenta brilho ao enredo. Também não acredito que poderia ser mais brilhante. "As cidades invisíveis" (1972), de Ítalo Calvino, fica como mais uma indicação de um ótimo livro.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Siamese Dream

Lançado em Julho de 1993, o álbum "Siamese Dream" dos Smashing Pumpkins comprovou que bons artistas conseguem transformar momentos ruins em obras primas. Num tempo turbulento, a banda consegue extrair inspiração para a criação desse marco na história do rock alternativo. Com Jimmy Chamberlin - baterista - viciado em drogas, D´arcy Wretzky - baixista - e James Iha - guitarrista - com problemas amorosos e com o obsessivo Billy Corgan - vocalista e guitarrista - em depressão, os Smashing Pumpkins apontavam para uma queda, após uma ascensão promissora com o álbum "Gish", lançado dois anos antes.

Com uma mistura de habilidade e prepotência, Corgan, além de compor sozinho grande parte das letras das músicas do álbum, toca quase todos os instrumentos na gravação, com exceção da bateria. O resultado é um disco excepcional, com treze faixas (doze e "Sweet Sweet", que é quase uma amostra) cheias de solos e letras sentimentais que fazem de "Siamese Dream" um dos melhores álbuns da década.

Siamese Dream

1 - Cherub Rock - 4:58
2 - Quiet - 3:41
3 - Today - 3:19
4 - Hummer - 6:57
5 - Rocket - 4:06
6 - Disarm - 3:17
7 - Soma - 6 :39
8 - Geek U.S.A. - 5:13
9 - Mayonaise - 5:49
10 - Spaceboy - 4:28
11 - Silverfuck - 8:43
12 - Sweet Sweet - 1:38
13 - Luna - 3:20

Numerosos e acurados arranjos, músicas extensas e letras tocantes. Uma mistura que fez de "Siamese Dream" um álbum memorável. "Cherub Rock", "Today" e "Disarm" ficam como a cara do disco e fazem mais sucesso. "Quiet" e "Geek U.S.A." dão força com ritmo agitado e solos elétricos. "Mayonaise" fica com meu troféu de melhor música. No mínimo, um ótimo trabalho das "abóboras esmagadoras".

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Cem anos de solidão

De Gabriel Garcia Márquez, "Cem Anos de Solidão" (1967) é uma obra prima da literatura moderna que conta a história da mítica Macondo, e da descendência dos seus fundadores, os Buendía, por um século. Livro com grande repercussão em todo o mundo, é sem dúvida o principal responsável pelo Prêmio Nobel de Literatura dado ao autor quinze anos mais tarde.

Adepto ao realismo mágico (também chamado de realismo fantástico), Gabriel Garcia Márquez transforma "Cem Anos de Solidão" em um expoente dessa escola literária. Juntamente com Jorge Luiz Borges, Julio Cortazar e alguns outros, representa a América Latina nesse estilo. No Brasil José J. Veiga é o principal representante. O italiano Ítalo Calvino consagraria-se mais tarde com várias obras do gênero.

O livro mescla magia e realidade de forma extremamente convincente, dando ao leitor a agradável sensação de viver um mundo onde limites são inexistentes e as possibilidades infinitas. A fantasia presente em toda a obra é construída com tamanha verossimilhança que ás vezes torna-se difícil distinguir o que não é real ou possível daquilo tudo. Abaixo alguns trechos marcantes dentre inúmeros, dessa obra que certamente é uma ótima indicação para qualquer leitor.

"Logo que José Arcadio fechou a porta do quarto, o estampido de um tiro retumbou na casa. Um fio de sangue passou por debaixo da porta, atravessou a sala, saiu para a rua, seguiu reto pelas calçadas irregulares, desceu degraus e subiu pequenos muros, passou de largo pela Rua dos Turcos, dobrou uma esquina à direita e à esquerda, virou um ângulo reto diante da casa dos Buendía, passou por debaixo da porta fechada, atravessou a sala de visitas colado às paredes para não manchar os tapetes, continuou pela outra sala, evitou em curva aberta a mesa da copa, avançou pela varanda das begônias e passou sem ser visto por debaixo da cadeira de Amaranta que dava uma aula de Aritmética a Aureliano José, e se meteu pela despensa e apareceu na cozinha onde Úrsula se dispunha a partir trinta e seis ovos para o pão.
- Ave Maria Puríssima! - gritou Úrsula."

“Deslumbradas com tantas e tão maravilhosas invenções, as pessoas de Macondo não sabiam por onde começar a se espantar. Indignaram-se com as imagens vivas que o próspero Sr. Bruno Crespi projetava no teatro de bilheterias que imitavam bocas de leão, porque um personagem morto e enterrado num filme, e por cuja desgraça haviam derramado lágrimas de tristeza, reapareceu vivo e transformado em árabe no filme seguinte. O público, que pagava dois centavos para partilhar das vicissitudes dos personagens, não pôde suportar aquele logro inaudito e quebrou as poltronas. O alcaide, por insistência do Sr. Bruno Crespi, explicou num decreto que o cinema era uma máquina de ilusão que não merecia os arroubos passionais do público. Diante de desalentadora explicação, muitos acharam que tinham sido vítimas de um novo e aparatoso negócio de cigano, de modo que optaram por não mais voltar ao cinema, considerando que já tinham o suficiente com seus próprios sofrimentos para chorar por infelicidades fingidas de seres imaginários”.

“...o Coronel Aureliano Buendía arranhou durante muitas horas, tentando rompê-la, a dura casca da sua solidão. Os seus únicos momentos felizes, desde a tarde remota em que seu pai o levara para conhecer o gelo, haviam transcorrido na oficina de ourivesaria, onde passava o tempo armando peixinhos de ouro. Tivera que promover 32 guerras, e tivera que violar todos os seus pactos com a morte e fuçar como um porco na estrumeira da glória, para descobrir com quase quarenta anos de atraso os privilégios da simplicidade...”

Prêmio nobel de 1982.

''Pelas suas novelas e histórias curtas, nas quais a fantasia e a realidade são combinadas, por forma a integrar um mundo pleno de magia e imaginação''

Blood Sugar Sex Magik

Simplesmente perfeito. Uma das minhas primeiras experiências com a música, o álbum "Blood Sugar Sex Magik" do Red Hot Chili Peppers é uma obra prima. Lançado em setembro de 1991, o álbum torna-se sucesso mundial, vendendo mais de 12 milhões de cópias. Trazendo músicas características do agitado "funk metal" como "Give it away" e "Suck my kiss" e baladas como "Under the bridge" e "I could have lied", o disco é completo.

Com a formação de Anthony Kiedis - vocais; Michael Balzary (Flea) - baixo; John Frusciante (que sai no meio da turnê, sendo substituído temporariamente por Arik Marshall) - guitarra e Chad Smith - bateria, o álbum é produzido por Rick Rubin e possui dezessete faixas:


1 - The Power of Equality - 4:03
2 - If You Have to Ask - 3:37
3 - Breaking the Girl - 4:55
4 - Funky Monks - 5:23
5 - Suck my Kiss - 3:37
6 - I Could Have Lied - 4:04
7 - Mellowship Slinky in B Major - 4:00
8 - The Righteous & The Wicked - 4:08
9 - Give it Away - 4:43
10 - Blood Sugar Sex Magik - 4:31
11 - Under the Bridge - 4:24
12 - Naked in the Rain - 4:26
13 - Apache Rose Peakock - 4:42
14 - The Greeting Song - 3:14
15 - My Lovely Man - 4:39
16 - Sir Psycho Sexy - 8:17
17 - They´re Red Hot - 1:12

O que mais me impressiona no álbum é a diversidade das músicas e o alto nível mantido. Músicas como "If you have to ask", "Breaking the girl", "Under the bridge" e "Suck my kiss" são completamente diferentes e soam muito bem. É incrível como conseguem com três instrumentos e os vocais fazer um som tão completo. Fica aqui a indicação de um grande disco que marcou a história e que será sempre uma boa escolha. Depois de vários discos lançados, o Red Hot Chili Peppers dificilmente construirá algo de melhor qualidade. E isso não é de forma alguma subestimar a banda, e sim enaltecê-la por um trabalho tão bem realizado.




Camera Digital Sony

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Aqui é o início de uma série de postagens que traz clássicos e novidades sobre música e literatura, com o propósito de informar e indicar opções interessantes aos visitantes.


Ao lado "Book and Guitar" de Juan Gris, pintor espanhol cubista nascido no final do século XIX.